Não sei qual foi o momento em que fui fisgada pela psicanálise. No curso de psicologia, eu percebia a psicanálise entremeada em boa parte da grade curricular, embora se tratasse mais de conceitos compartimentalizados, talvez pelo bem da didática... 1a tópica, 2a tópica, fases do desenvolvimento psicossexual, mecanismos de defesa, estruturas...
Embora esses conceitos sejam fundamentais, não foi a partir daí que a psicanálise me instigou.Pensando bem, não teve um momento exato, foi um processo que foi acontecendo, sem que eu tivesse tomado como uma decisão.
Mas sei que O Mal Estar na Civilização teve muito a ver com isso. Foi o texto que marcou, senão um encontro, uma espécie de encanto com a psicanálise.
Primeiro texto de Freud que li, quando eu ainda não sabia muito bem que a psicanálise era uma outra coisa, além da psicologia.
Foi quando eu percebi que a psicanálise não se debruçava apenas no que é da ordem do intrapsíquico ou do núcleo familiar... Mas que há algo além, algo do social e da cultura que nos atravessa enquanto sujeitos e que afeta a escuta do sujeito do inconsciente.
A psicanálise pra mim, era uma antes desse texto, e foi outra depois.
Desconfio que foi aí que iniciou o meu percurso, mesmo que eu ainda não soubesse que era isso... A partir daí comecei a caminhar meus passos pela via do desejo, escolhendo mestras e mestres ainda na universidade, cuja transmissão me afetava, como antes não acontecia... Fui escolhendo caminhos que me aproximavam cada vez mais da psicanálise e do que ela fazia transbordar em mim.