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Imagem registrada por Lara Klinger, em dezembro de 2014. |
Há exatos 6 anos, uma amiga e eu voltávamos de um local onde fazíamos estágio curricular, quando vi essa frase rabiscada em uma parede da cidade, e pedi que ela registrasse. Na época, postei a foto, com algumas reflexões sobre achar bonito ver uma manifestação como essa, em uma cidade tão predominantemente conservadora... e sobre a necessidade de libertar o amor, de preconceitos e de libertá-lo também de dentro de nós (parafraseando o meu próprio texto).
Hoje, revendo essa lembrança, penso também no quanto os discursos normatizadores aprisionam os afetos, e no sofrimento que causa a tantos sujeitos essa tentativa de docilização de corpos e subjetividades. Mas penso também que a cidade fala, inscreve nas suas paredes o que os discursos hegemônicos tentam silenciar. A palavra circula em muros cinzas, pulsa afeto e resistência. Aquilo que é político, que é público, aquilo que se refere a direitos... atravessa a vida privada: a liberdade de ser o que se é, e amar a quem se ama...
Sobre aquilo que é singular do amor, penso na clínica e na célebre frase: "não se faz outra coisa em análise, senão falar de amor” (muito bem dita pelo nosso queridíssimo Lacan). E na análise fala-se mesmo de amor; da falta do amor; daquilo que se pensa ou se teoriza sobre o amor e que talvez não o seja; das idealizações e fantasias que permeiam as relações de um modo geral; da forma de se relacionar que tem muito dos primórdios da formação do sujeito.
Lacan diz também que "o amor é dar o que não se tem, a alguém que não o quer". Aí que está o abismo. Aprendemos, em psicanálise que o amor é sobre incompletudes, faltas. Mas são os abismos que nos movem a construir pontes: que aproximam o quanto é (im)possível, mesmo com faltas e restos: o amor, seja ele qual for, é uma conta que não fecha.
É preciso libertar o amor. Não em um sentido universal, incondicional, romantizado e repleto de "gratitudes"... mas no sentido de libertar a circulação do afeto, e deixar-se afetar por quem ou o que lhe causa algo que as outras pessoas ou coisas não causam.
É preciso encontrar palavras para libertar o amor. É preciso traduzir em palavras, mesmo que elas sejam insuficientes, mesmo que elas não cheguem a coisa em si: para dissipar um pouco daquilo que é sintoma, e se repete na busca do (re)encontro com um desejo, que faz reviver as mesmas narrativas.
É preciso a palavra para fazer circular, libertar o amor em si, e possibilitar outro desfecho. Finalizo citando, tal como fiz no post original, Nando Reis: "tornar o amor real é expulsá-lo de você, pra que ele possa ser de alguém"
*Texto postado no IG @levebruma.psicanalise em dezembro de 2020.
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