terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Clarice Lispector

"Acho que loucura é perfeição. É como enxergar. Ver é a pura loucura do corpo. Letargia. A sensibilidade trêmula tornando tudo ao redor mais sensível e tornando visível, com um pequeno susto e impalpável."
(Um Sopro de Vida)

10 de dezembro, dia do nascimento de Clarice, essa mulher que nos contempla com uma escrita tão delicada quanto precisa, tão sensível quanto cortante. Suas palavras fazem eco ao desconforto do ser faltante, do sujeito do inconsciente,  que busca e que deseja, que se angustia. Que se paralisa e que também se move.
As palavras não traduzem o que comporta de impalpável e de louco na existência humana: nela reside o que há de comum e o que há de singular, coexistindo, fazendo fronteiras  que encontram e que afastam.
As palavras não traduzem, mas algumas vezes, aproximam. Assim é a escrita de Clarice, que capta algo desse impalpável, não na sua totalidade (porque bem, se (des)encontra também ela, na condição de sujeito, portanto fal(t)ante), mas re-cortes valiosos e quem sabe, talvez até suturas, cujos fios nos/nós enlaçam a coisas que nos são também difíceis de nomear, e nos afetam justamente pela ressonância de uma fala que diz daquilo que é comum e singular a cada um de nós. Coisas difíceis, quiçá impossíveis de nomear e que nem por isso paramos de tentar atribuir-lhes sentidos: seja pela via da arte, da escrita, da leitura ou da psicanálise.